domingo, 23 de março de 2014

Le Moulin - Amélie Poulain


Não são palavras, mas a música não deixa de ser uma linguagem. Uma das minhas músicas favoritas de um dos meus filmes favoritos. Tocar essa música me torna um pouco mais Amélie e, por consequência, um pouco mais livre.

sábado, 15 de março de 2014

No banheiro feminino

No banheiro feminino do shopping, mãe e filha escutam uma senhora elegante chorar nos ombros de uma amiga. Curiosas, tentam ouvir parte da conversa, mas tudo o que conseguem entender é: “Você tem de contar ao seu marido, só assim essa angústia vai embora”.

Mãe: O que você acha que aconteceu? Será que ela perdeu alguém na família?
Filha: Bem, se fosse isso, porque o marido ainda não saberia? Pelo que a amiga disse, eu pensei que ela talvez estivesse traindo o marido, e agora ela está arrependida e não sabe o que fazer.
Mãe: É mesmo? Mas se ela estivesse traindo o marido ela não deveria estar feliz?
Filha: Não se ela estiver realmente arrependida.
Mãe: Eu acho que ela deve ter descoberto que o marido a está traindo, aí sim ela teria uma razão para chorar.
Filha: Não, não acho que seja isso. Se o marido a estivesse traindo ela estaria com raiva, e não chorando.
Mãe: Eu ainda acho que ela perdeu alguém na família.
Filha: Não, se fosse isso tenho certeza de que o marido saberia.

O pai esperava no corredor.

Pai: O que foi?
Mãe: Tinha uma mulher chorando no banheiro e a amiga dela disse que só contando para o marido o que aconteceu ela se livraria da angústia. A (...) acha que ela estava traindo o marido, mas eu acho que ou ela descobriu que o marido a traiu, ou ela perdeu alguém na família.
Filha: Eu já disse, se alguém tivesse morrido o marido saberia. Ela estava arrependida, era choro de pessoa arrependida.

No carro, voltando para casa:

Filha: Se bem que talvez ela tenha descoberto que tem uma doença grave, mas ainda não contou para o marido.
Mãe: É, pode ser.
Pai: Ou vai ver ela gastou muito e estourou o limite do cartão de crédito do marido. Daí de fato ela tem uma razão para ainda não ter contado para ele.
Filha: Fala sério pai, que mulher ia ficar angustiada porque gastou demais? Era algo mais sério.
Pai: Eu acho que estourar o limite do cartão é bastante sério.
Mãe: Não mais do que uma morte na família.
Filha: Não mais do que descobrir que se tem uma doença fatal.
Mãe: Qual doença você acha que era?
Filha: Não sei. Talvez não seja nada muito sério, ela só está com medo do que pode acontecer. E ela não quer preocupar o marido atoa. Na verdade, acho que eles nunca se traíram, acho que devem ser um bom casal.
Pai: Mas vão ter uma briga feia quando a conta do cartão de crédito chegar.
Mãe: A gente devia ter perguntado o que era.
Filha: É, agora nós nunca vamos saber.