sábado, 15 de março de 2014

No banheiro feminino

No banheiro feminino do shopping, mãe e filha escutam uma senhora elegante chorar nos ombros de uma amiga. Curiosas, tentam ouvir parte da conversa, mas tudo o que conseguem entender é: “Você tem de contar ao seu marido, só assim essa angústia vai embora”.

Mãe: O que você acha que aconteceu? Será que ela perdeu alguém na família?
Filha: Bem, se fosse isso, porque o marido ainda não saberia? Pelo que a amiga disse, eu pensei que ela talvez estivesse traindo o marido, e agora ela está arrependida e não sabe o que fazer.
Mãe: É mesmo? Mas se ela estivesse traindo o marido ela não deveria estar feliz?
Filha: Não se ela estiver realmente arrependida.
Mãe: Eu acho que ela deve ter descoberto que o marido a está traindo, aí sim ela teria uma razão para chorar.
Filha: Não, não acho que seja isso. Se o marido a estivesse traindo ela estaria com raiva, e não chorando.
Mãe: Eu ainda acho que ela perdeu alguém na família.
Filha: Não, se fosse isso tenho certeza de que o marido saberia.

O pai esperava no corredor.

Pai: O que foi?
Mãe: Tinha uma mulher chorando no banheiro e a amiga dela disse que só contando para o marido o que aconteceu ela se livraria da angústia. A (...) acha que ela estava traindo o marido, mas eu acho que ou ela descobriu que o marido a traiu, ou ela perdeu alguém na família.
Filha: Eu já disse, se alguém tivesse morrido o marido saberia. Ela estava arrependida, era choro de pessoa arrependida.

No carro, voltando para casa:

Filha: Se bem que talvez ela tenha descoberto que tem uma doença grave, mas ainda não contou para o marido.
Mãe: É, pode ser.
Pai: Ou vai ver ela gastou muito e estourou o limite do cartão de crédito do marido. Daí de fato ela tem uma razão para ainda não ter contado para ele.
Filha: Fala sério pai, que mulher ia ficar angustiada porque gastou demais? Era algo mais sério.
Pai: Eu acho que estourar o limite do cartão é bastante sério.
Mãe: Não mais do que uma morte na família.
Filha: Não mais do que descobrir que se tem uma doença fatal.
Mãe: Qual doença você acha que era?
Filha: Não sei. Talvez não seja nada muito sério, ela só está com medo do que pode acontecer. E ela não quer preocupar o marido atoa. Na verdade, acho que eles nunca se traíram, acho que devem ser um bom casal.
Pai: Mas vão ter uma briga feia quando a conta do cartão de crédito chegar.
Mãe: A gente devia ter perguntado o que era.
Filha: É, agora nós nunca vamos saber. 

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