Ele veio de novo para o jantar. Ela educadamente
o recebeu à porta e voltou ao seu quarto, deixando-os sozinhos. Ela detestava o
que eles se tornavam quando estavam juntos. Tentou continuar lendo o seu livro,
mas as vozes a incomodavam. Ela então juntou as suas coisas, despediu-se dos
dois sentados no sofá, e disse que jantaria na casa de uma amiga. Eles insistiram
para que ficasse, mas esse teatro não mais a convencia. Sorriu educadamente,
disse que a amiga precisava dela, e partiu.
A amiga era obviamente apenas um pretexto. Ela se dirigiu à biblioteca mais
próxima e se perdeu entre os livros. Agora ela estava salva de seus pensamentos
confusos. Com a ajuda de Austen, suas próprias ideias sombrias deram lugar ao fictício
desespero de Marianne. Quando chegou em casa, 106 páginas mais tarde, sua irmã
dormia e ele já havia partido. Pôde, assim, dormir em paz.
A irmã não parecia bem ao comer seu cereal pela manhã. Ela conversou
normalmente, sorriu, perguntou como tinha sido sua noite. Mas algo na forma
como ela segurava a colher, ou como ela a trazia à boca, revelava certa
indisposição ou tristeza contida. A irmã mais nova fingiu que nada tinha
percebido, mas, secretamente, ela gostava menos e menos daquele visitante
noturno.
Na noite seguinte, ela decidiu desistir de sua leitura e deitou-se para dormir.
Entre uma risada e outra ela ainda distinguia suas vozes, mas não saberia dizer
o que estavam dizendo. Melhor assim. Começou a pensar no seu querido cunhado e
desejou que ele estivesse ali com elas. Talvez um mês a mais fosse o suficiente
para destruir tudo. Os últimos cinco meses foram uma grande oportunidade de
aprendizado para ela, mas desejava que já pudesse voltar para casa e garantir
que nada sofresse mudanças além de seus próprios conhecimentos. Ela ouviu a
porta da irmã se trancando. Em meio a esses devaneios, ela havia se esquecido
das vozes na sala. Não as ouvia mais. Será que ele tinha saído? Certamente, e
agora a irmã devia estar se trocando para dormir. Um barulho no quarto. Uma
voz. Outro barulho. Um riso abafado. Será possível que ele estivesse no quarto
com ela? Não, não era possível.
Mais um barulho. Porque tão alto? Ela tentou dormir. Estava naquele estado em que
meio sonhava e meio dormia, quando pensou ouvir outro barulho, um barulho bem
característico que ela só podia assumir ser uma coisa. E aquilo continuava, e
ela desejava que estivesse sonhando. Mas embora estivesse confusa em seu estado
sonolento, ela sabia que não era mentira. Tudo que ela desejava era que ela
estivesse enganada e que seu cunhado continuasse sendo o único homem na vida de
sua irmã.
Nossa; gostei muito do final deste texto! Me surpreendeu!!! Sem falar que a narrativa nos prende até o fim!
ResponderExcluir